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Regras de negócio em projetos de automação de processos

Em muitos projetos de automação de processos é comum que nos deparemos com uma confusão conceitual que pode atrapalhar o trabalho desde a documentação até a implementação dos processos: a definição das regras de negócio e requisitos de software como sendo a mesma coisa.

Como em muitas organizações a iniciativa de BPM tem origem na área de TI, é comum que templates de documentação de processos agrupem todas estas definições em um único documento ou seção onde tradicionalmente se definem os requisitos de software, apenas utilizando a nomenclatura “regras de negócio”.

Se por um lado essa simplificação pode fazer sentido na medida em que todos os requisitos e restrições deverão ser considerados pela equipe de desenvolvimento na implementação dos processos automatizados de forma coesa, por outro inviabiliza a manutenção compartimentada, por equipes diferentes e em momentos distintos. Mas se na arquitetura de software costuma-se utilizar camadas de abstração para criar domínios de responsabilidade e interdependência de forma flexível, por que não fazer algo similar em nossos projetos de automação de processos?

Assim como dividimos os elementos de um website em conteúdo, estilo e  comportamento, devemos utilizar uma especificação de processos que considere de modo similar o que são os requisitos do processo separadamente dos requisitos de software e das regras de negócio aplicáveis. Dessa forma, estaremos possibilitando uma validação separada entre a área de negócios (regras de negócio) o escritório de processos (desenho de processo) e a área de TI (requisitos de software).

Regras de negócio são ativos empresariais

Obviamente, a integração das necessidades destas diferentes áreas deve ser considerada pelos analistas de processos, mas ao tratá-las de forma distinta viabilizamos a gestão funcional, utilizando as competências específicas de cada área, facilitando a manutenção e proporcionando agilidade nas mudanças necessárias.

A ABPMP chama a atenção para esse importante requisito do processo, ao recomendar a consideração de aspectos importantes relacionados às regras de negócio no capítulo do BPM CBOK que trata da análise de processos. Devemos considerar porém que as regras de negócio podem referir-se a regras atômicas, comuns a diferentes tipos ou linhas de negócios de uma organização, sendo altamente recomendável seu tratamento como um ativo empresarial.

Considere o exemplo da extinta CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras),  que era uma regra aplicável a diversos processos bancários entre 1997 e 2007. O que aconteceria se em cada um desses processos fosse definida uma regra de negócio para tratar daquela contribuição? Certamente haveria desalinhamento, cobranças indevidas, cobranças de valores incorretos, entre outros problemas. Agora imagine a dificuldade e a demora de realizar a manutenção em todos os processos quando essa regra de negócio era alterada ou quando foi ela extinta?

BRMS, o repositório para as regras de negócio

Armário para ferramentas
BRMS, o repositório para as regras de negócio

Como já foi dito em nosso artigo Business Rules e a Dinâmica do Negócio, o ideal é que se tenha as regras de negócio centralizadas em um BRMS (Business Rules Management System) e, na especificação de um processo de negócio, apenas se referenciem as regras aplicáveis que deverão ser consideradas pelos desenvolvedores na automatização. Devemos pensar nas regras de negócio como ferramentas que podem ser utilizadas em diversos projetos, mas que ficam em um repositório centralizado, uma coleção organizada, onde cada item possui uma funcionalidade específica e que será utilizado sob demanda.

Um fato que apoia essas recomendações é a existência, no BPMN, de um tipo de tarefa automática chamada Business Rule Task (leia nosso artigo sobre esse assunto), que permite tratar de forma um pouco mais autônoma a camada de negócio da aplicação que irá automatizar o processo.

E na sua organização, como são gerenciadas as regras de negócio utilizadas nos processos? Individualmente em cada processo? Utilizam um BRMS? Ou possuem formas híbridas para gerenciá-las? Compartilhe sua experiência e enriqueça a discussão desse importante tema.

7 respostas

  1. Oi Luciano,

    muito interessante este artigo, parabéns!

    Eu entendo que as regras de negócio devem ser definidas nas políticas da empresa, para que desta forma elas se propaguem a todos os processos cabíveis.

    A fonte de informações a serem utilizadas em um BRMS estaria nas políticas da empresa.

    O que os leitores acham? Este raciocínio está correto?

  2. Olá Luciano

    Temos alguns problemas que podem comuns em diversas empresa: na definição das regra de negócio, no controle de mudanças dessas regras, na manutenção dessas regras nos processos e também por não termos um repositório de regras em BRMS.

    Hoje regras de negócio são implementadas isoladamente nos processos, sendo que quando modificadas temos que percorrer todos os processo e alterar regra a regra.

    Mas o problema maior acredito que não seja na camada de software, e sim no negócio em si, em quem toma essas decisões, definir regras de negócio é um tanto “desconfortável” em muitos casos…

    Abraço e parabéns pelo artigo!

  3. Luciano bom dia!

    Muito bom este artigo.
    Nos profissionais de levantamento de requisitos para desenvolvimento e até manutenção de software, estamos sempre encontrando maneiras de melhorar nossos conhecimentos e o BPM me ajudou muito.

    A grande dificuldade de nossos levantamentos que trazem paras as empresas hoje, é que junto com levantamento efetuamos uma auditoria de processos e de pessoal, demonstrando muitas das vezes que a empresa poderia ter uma melhor administração de seus processos, com redução de quadro de funcionário ou remanejamento e as vezes mudanças de processos que a anos a empresa vem utilizando com sucesso, mais que poderia ter atualizado ou aperfeiçoado.

    Grato pelo artigo.

  4. Olá. Ubiraci.

    As políticas dão as diretrizes mais gerais para a condução dos negócios. Elas comunicam em que direção a empresa irá seguir como se fosse um acordo quanto ao seu modo de agir. As pessoas sabem o que esperar da empresa, em linhas gerais, ao ler suas políticas.

    Já as regras de negócio podem ser aplicadas a todos os negócios da organização (se for uma empresa com pouca diversificação de produtos/serviços), ou a apenas um tipo de negócio específico (área comercial, por exemplo). É bom lembrar que regras de negócio são sinônimos de restrições. Estas regras podem, sim, ser orientadas pelas políticas, mas são coisas diferentes, com objetivos diferentes.

    Vale a pena dar uma olhar no artigo Business Rules e a Dinâmica do Negócio (link acima), especialmente na definição de regra de negócio para que esse entendimento seja completo.

    Obrigado por participar.

    Abraço.

    Luciano Gomes

  5. Oi, Stefan.

    O problema que você relatou é muito comum até mesmo em grandes empresas que costumam pensar corporativamente e utilizarem governança corporativa e de TI mais efetivamente. O desafio está em decidir-se pelo uso de BRMS e de fato entender as regras de negócio como um ativo da companhia.

    As regras de negócio existem, estejam nossos processos mapeados ou não, automatizados ou não, e estejamos nós usando BRMS ou não. A formalização das regras de negócio pelos responsáveis das áreas de negócios é uma grande oportunidade de autoconhecimento, revisão das regras, identificação de ameaças e oportunidades, etc.

    A Direção de uma companhia deveria olhar a formalização das suas regras de negócio como uma atividade cíclica (PDCA) que agrega muito valor à organização e não apenas como forma de parametrizar sistemas e processos.

    Obrigado por compartilhar, Stefan. É muito bom conhecer outras realidades e trocarmos experiências.

    Abraço.

    Luciano Gomes

  6. Bom dia, Raul.

    Fico muito satisfeito por ver pessoas da área de TI abraçando o uso de BPM. Acredito de fato que BPM veio para harmonizar TI com os negócios.

    A dificuldade que você relatou é uma velha conhecida, a resistência às mudanças. Eu recomento a leitura de algum livro sobre gestão de mudanças. (Eu li este https://www.skoob.com.br/livro/130312).

    A resistência às mudanças ocorre tanto pelos empregados com administradores das empresas. Mudanças significam incertezas e custos e essas são coisas que a maioria de nós não quer. Somente quando as pessoas compreendem as mudanças e acreditam que elas possam melhorar sua situação atual, seja em relação às condições de trabalho, à qualidade dos produtos, à satisfação do cliente, ao aumento dos lucros a médio e longo prazos, é que elas as aceitam e até se engajam nesse processo.

    Desejo sucesso nas suas iniciativas de BPM e convido você a acompanhar nossas publicações, tanto no Blog como em nosso canal no YouTube, e a compartilhar a sua experiência com quem está chegando agora.

    Abraço.

    Luciano Gomes

  7. Luciano, parabéns pelo conteúdo, rigor conceitual e qualidade do texto deste artigo!
    Muito útil para a comunidade de profissionais!!

    Um abraço,
    Rubens

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