Para que as boas práticas de fato se consolidem dentro das organizações e o Gerenciamento por Processos de Negócio se torne uma realidade, é necessário reforçar um entendimento básico, que se não for bem compreendido pode levar a uma estratégia errada pela organização.
Esse artigo tem um foco mais conceitual, visando reforçar o que é e o que não é BPM e BPMN.
Primeiramente, precisamos estabelecer a diferença entre disciplina, método e metodologia:
Dito isso, podemos afirmar que:
BPM e BPMN são coisas distintas, e nenhuma delas é uma metodologia.
BPM (Business Process Management) é uma disciplina, ou seja, é a aplicação prática de uma filosofia gerencial em que se entende que uma organização que gerencia o seu negócio com foco em processos deve ser mais eficiente, eficaz e consegue operar com custo e qualidade balanceados e otimizados. Isto implica em monitorar, revisar e melhorar continuamente seus processos.
Para esta esta disciplina funcionar, é preciso desenvolver na empresa três capacidades:
- humana (pessoas preparadas para trabalhar e gerenciar a atividade do negócio através dos processos)
- metodológica (sim, métodos é apenas UMA parte de BPM)
- tecnológica (gerenciar e integrar a inteligência do negócio através de soluções que suportam a execução dos processos).
Portanto é incorreto/limitado dizer que BPM é uma metodologia. O conhecimento comum sobre BPM entende que existem vários métodos, técnicas, ferramentas e notações que podem ser aplicadas em projetos de melhoria de processos, e cada equipe e organização deve definir aquelas que se aplicam para a sua necessidade específica, definindo sua própria metodologia. O BPM CBoK (Corpo Comum de Conhecimento em Gerenciamento de Processos de Negócio) sugere alguns métodos e ferramentas que podem ser aplicados na descoberta, na modelagem, na análise, no diagnóstico, na transformação e no monitoramento do processo, mas não exaure todas as opções, e ainda deixa em aberto a possibilidade de se usar um método totalmente novo e diferente. Se ele tem por objetivo apoiar o entendimento e a transformação de processos, então pode ser considerado uma prática de BPM.
Dentro da capacidade metodológica entra a necessidade de representar processos. Para isso, existem diversas notações: fluxograma, VSM, VAC, EPC, BPMN, entre outras. A notação é apenas um conjunto de símbolos que podemos usar pra descrever graficamente um processo. Portanto, BPMN (Business Process Model and Notation) também não é uma metodologia. Ela é uma linguagem gráfica, com semântica e gramática bem definidas para os seus símbolos, que possui uma documentação especificando o significado de cada elemento gráfico e que é aberta, portanto existem dezenas de ferramentas que a utilizam (confira algumas no nosso artigo 7 ferramentas gratuitas para criar de diagramas de BPMN).
Entretanto, a abordagem ou método a ser adotado na representação do processo com esta notação pode variar de acordo com o propósito do modelo que está sendo desenhado. Uma visão mais estratégica e de alto nível pode omitir características do processo e usar um subconjunto de elementos completamente diferente de um fluxo desenhado para orientar a execução do trabalho pelos participantes, e é mais diferente ainda de um modelo de processo se transformará em um fluxo automatizado em alguma ferramenta de workflow/BPMS. Esta temática de variação de elementos a usar de acordo com cada tipo de projeto de modelagem já foi explorado aqui em nosso blog, em artigos como Um BPMN para cada propósito de modelagem de processos e Em que nível devo modelar meu processo?.
O que isso tem a ver com a estratégia de adoção de BPM na minha empresa?
Organizações que estão iniciando na sua jornada de gerenciamento de processos comumente buscam apoio e experiência de consultorias especializadas ajudar a dar os primeiros passos.
Contratar uma consultoria de Metodologia de BPM pode ser interessante para a organização definir métodos e ferramentas de trabalho para aplicar na modelagem e transformação dos processos. Mas a consultoria em algum momento irá embora. E sem desenvolver as outras capacidades, como a organização conseguirá sustentar a iniciativa?
É preciso enxergar BPM como uma nova cultura a ser adotada na organização, que precisa estar alinhada com a estratégia do negócio, ter pessoas preparadas para executar e gerenciar os processos e as ferramentas tecnológicas necessárias para dar transparência e visibilidade sobre os processos.
4 Responses
Muito bom o artigo Kelly, tenho aprendido bastante com você.
Obrigada Davi! Junto com todo o time de experts da iProcess, é um prazer compartilharmos nossas experiências e reflexões com os profissionais de BPM!
Bom dia Kelly,
Li seu artigo, mas não consegui identificar a fundamentação para considerar o BPM como disciplina. Nos estudos realizados sobre o BPM, sempre aparece com metodologia.
Se pudesse citar sua fonte de pesquisa e análise do assunto seria interessante.
Obrigado.
Olá Tarso, o próprio BPM CBOK (Corpo Comum de Conhecimento em Gerenciamento de Processos de Negócio, da ABPMP) estabelece que “BPM é uma disciplina gerencial” e que “BPM não é uma prescrição de estrutura de trabalho, metodologia ou conjunto de ferramentas”.
Estas definições estão no capítulo 2 desta que é uma das principais obras de referência sobre BPM.